terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ENTREVISTA: Terror Revolucionário (DF)



A Terror Revolucionária foi formada em fevereiro de 99 por Thiago Cardoso (guitarra), Jefferson (bateria), Fellipe CDC (vocal) e o Homem-Palco (baixo, posteriormente substituído pela Adriana Drikaos que está até hoje). Véspera de completar seus 15 anos e comemorarem sua valsa do caos, a banda candanga, nas vozes do Fellipe CDC e Thiago Cardoso nos contam mais detalhes da banda e dessa que já é um patrimônio do hardcore brasiliense.


Fellipe CDC:

15 anos. Um bom tempo para quem está na ativa desde o início da banda. Como foi o início da Terror Revolucionário? Aliás, ela foi a sua 1ª banda?

Fellipe CDC: Não, cara, não foi. Tem a Death Slam que começou em outubro de 1990 (e está na ativa até hoje!) e antes da DS ainda toquei com uns amigos em duas outras bandas: Cursed e HCS. Antes da Terror ainda teve um projeto chamado Teratogênia, no qual a Adriana (baixista da TR) tocávamos juntos. A idéia de montar a banda partiu do Barbosa. Ele trouxe o nosso primeiro baixista, o saudoso e querido Homem Palco e eu trouxe nosso eterno batera, o Jeferson Hellmatismo. No primeiro ensaio já saíram uns 6 sons, foi uma química muito boa e imediata. Fazíamos um som mais cru no começo, bem HC punk mesmo com muitas doses de grind. Todos esses estilos nos acompanham e nos acompanharam a vida toda, mas agora percebesse uma influência metal aqui e ali em alguns sons. Barbosa está muitoooo metaleiro! (risos) 

Como era a cena em Brasília na época? O que mudou de lá pra cá?

= Fellipe CDC: Muitas bandas acabaram e hoje os shows estão bem mais vazios, algo que é extremamente preocupante. Também temos menos espaços para realizar eventos, os custos das produções ficaram mais onerosas e as exigências burocráticas (mErCAD, alvarás, etc) estão bem mais rígidas, ou seja, só louco para tentar fazer evento na Capital do Brasil.

Como é o trabalho de composição na banda?

Barbosa é o nosso grande maestro. Ele compõe a maioria das músicas, eu escrevo a maioria das letras, mas nada impede que tudo isso se inverta. Temos músicas da Adriana, letras da Adriana, tem músicas minhas, tem letra do Capitão, mas todo mundo opina e dá seus palpites na construção de qualquer canção, seja ela boa ou ruim. Temos também músicas que amigos nossos fizeram para a gente, letras também e sons compostos pelos ex-integrantes Neno e Homem Palco e também letra da Carol. Somos uma banda bem aberta mesmo! 

Você está sempre envolvido em shows com bandas de fora e até mesmo festivais (como o Ferrock, por exemplo). Como é que você divide seu tempo organizando tantas coisas, aliando a seu tempo de trabalho, família, etc.

= Puts, estou em tempo de endoidar, cara. Sério mesmo! E o pior é que quanto mais você nada contra a maré, mas você teima em tentar vencê-la, por maior que ela surja. Organizar eventos é ter uma forte conexão com o NÃO. NÃO é a palavra que um produtor mais deve escutar na vida! Tenho a mesma companheira há mais de 24 anos, ela me suporta e me ajuda demais. Se fosse outra com certeza já tinha me mandado para a casa do caralho há muito tempo! E, sem preconceito nenhum, é uma casa que eu não tenho a mínima vontade de conhecer! (risos).

Nesse show de aniversário, as bandas convidadas tem algum laço histórico e de amizade com a Terror, ou foram bandas aleatórias da cena atual?


= Sim, com certeza. São de nossos amigos, bandas que gostamos dos sons e músicos que costumam freqüentar outros shows. Temos uma preocupação de fortalecer o vínculo, a amizade dentro da cena. Acho que será nosso 4º Terror Fest e nunca repetimos as bandas, sempre são bandas diferentes evitando ficar alguma espécie de panela ou algo parecido. Tem também o aspecto ideológico, não chamamos bandas com veias religiosas, machistas, nacionalistas e outras merdas parecidas. 

- Se pudesse ter um poder mágico de mudar as coisas, o que mudaria na atual cena daí (se é que algo precisa ser mudado)?

= Sim, amigo, tem muita coisa para ser mudada, muita mesmo. A coisa mais urgente é tirar as pessoas de casa de novo, levá-las para as ruas, para sentir o calor e o cheiro das ruas. As pessoas não vão mais para shows, ficam em suas casas, trancadas e perdendo tempo falando mal umas das outras pela internet. Perca de tempo! Faria também os músicos prestigiarem outras bandas. Faria uma norma que uma banda / pessoa ajude obrigatoriamente outra banda / pessoa. Reviveria um monte de bandas que foram extintas e todos os zines em papel! Acho que essas coisas já surtiram boas vibrações e mudanças significativas. Muito obrigado por seu apoio e por sua amizade durante todos esses anos. E, olha, queremos demais tocar aí no norte do país!!! Abraços e felicidades para todos. Apareçam no Terror Fest (8/2/14)!


Thiago Cardoso:


Há 15 anos atrás, montastes a Terror Revolucionário. Qual era sua ideia na época ao montar uma banda de hardcore e se você montasse a mesma hoje, seria como a banda é atualmente? 

= E ae Jayme! Valeu pela oportunidade de participar do blog Caldo de Crânio.

Então, montamos a banda em fevereiro de 1999. Antes, já tive outra banda que durou pouco tempo e que fez alguns shows. Eu sempre tive vontade de tocar numa banda com um som mais porrada. Eu e o Homem-palco (primeiro baixista) já estávamos combinando de fazer uns sons na pegada do Olho Seco e das músicas da coletânea Sub, que a gente ouvia bastante nessa época. Eu trabalhava numa loja de disco de rock no Conic e lá conheci o Fellipe CDC, que certa vez me convidou pra tocar no Death Slam. Acontece que fiquei com medo de não dar conta e nem dei uma resposta pra ele. Mas logo combinamos de fazer um ensaio e fazer um barulho: eu, Homem-palco, Fellipe CDC e o Jeferson, baterista que o CDC conhecia e o convidou. Logo de cara no primeiro ensaio a química foi perfeita. Já fizemos umas 4 músicas e ficamos bem empolgados. Caso rolasse hoje de montar a banda, acho que não mudaria muita coisa não. Nossas influências se expandiram, evoluímos um pouco como músicos, mas a vontade de tocar esse som carniça é a mesma de 15 anos atrás. 

Em tempo, por que Terror Revolucionário?

= Na saída do estúdio Caverna, local desse primeiro ensaio, o Fellipe CDC já lançou esse nome. Todos na hora curtiram a ideia. Terror Revolucionário era um impresso marginal distribuído na época da Revolução Francesa.

Há uma citação de Karl Marx também pra esse nome: Segundo Marx, (Nova Gazeta Renana, 11 de julho de 1848), "só existe um modo pelo qual as agonias assassinas de morte da velha sociedade e o nascimento sangrento da nova sociedade pode ser encurtado, simplificado e concentrado, e esse modo é o terror revolucionário". 

A primeira impressão que temos da banda, é que há um coleguismo grande na mesma. Achas importante para uma banda sobreviver há tanto tempo com quase a mesma formação do início?

= Com certeza!!! Temos um respeito e amizade muito grande dentro da banda. Eu (Barbosa), Jeffer e Fellipe CDC estamos juntos desde o início. Adriana se juntou a 10 anos quase. Essa formação é perfeita. Sempre dei maior valor a bandas que tem sua formação estabilizada por muitos anos. Posso citar como exemplo: Sick of it all, Napalm Death, Cólera (com o Redson). 

Quais os shows mais porradas da Terror Revolucionário?

= Porra, já fizemos nesses 15 anos um total de 210 shows. Nunca fizemos uma grande turnê! Sempre shows picados, com no máximo 3 shows na sequência. Já foram inúmeros shows fodas e marcantes. Vou citar alguns lugares que sempre é divertido e insano tocar: Gama/DF, Formosa/GO e Goiânia/GO. Pessoal foda e shows locurama. 

15 anos muda muita coisa, inclusive as influências e consequentemente, a sonoridade. O que escutam hoje e o que carregam disso para o som da banda?

= Com certeza evoluímos muito como pessoas e musicalmente. Cabeça mais aberta, novas ideias. Mas na banda aplicamos aquilo que gostamos desde o início: influências de som punk/hardcore/grind e metal. Eu particularmente nesse momento tenho escutado muito Poison Idea, Corrosion of Conformity, Abuso Sonoro, Graveyard, Black Sabbath. É o que tem rolado no meu som nas últimas semanas. 

A seu ver, qual a diferença entre você tocar na Terror e nos outros projetos que você participa? Alguma é mais importante que outra? Há uma espécie de "banda principal" sua?

= Atualmente o Terror Revolucionário é minha única banda. Já teve momentos que tive 4 bandas ao mesmo tempo. Toquei também no Mayombe, Innocent Kids e Possuído pelo Cão. Cada banda teve seu tempo de maior dedicação, mas nunca teve dessa de mais importante. Acho até que o Terror Revolucionário sempre foi a que teve uma regularidade maior em suas atividades (ensaios, shows).
Percebe-se que a comemoração do niver já começou, com posts antigos sobre a história da banda, incluindo imagens raras do início. Pretendem fazer algo mais além disso e do show? Tipo, algum lançamento novo ou mesmo relançamento (quem sabe até mesmo um DVD ou vinil, é só uma ideia, hehe)?

= Tem sido muito divertido relembrar a história da banda com relatos de cada época, das formações antigas e postando fotos que fui achando e que alguns colaboradores vão resgatando também. Poxa, são 15 anos de atividade sem parar. Muita história, inúmeras lembranças. Estamos preparando um show especial com um set list imenso que vai dar trabalho pros véios da banda. Hahahaha 

Devem aparecer nesse show antigos integrantes, amigos que de alguma forma devem participar com a gente no palco.
Temos um disco novo gravado, esperamos que saia em breve. São 18 músicas novas. Esse disco se chama Mr. Crack! 

Esperamos ainda que nesse ano saia um disco que está pronto desde 2006. Deve sair em split com a banda Death From Above (Goiânia/GO).

Quem quiser conferir o evento no facebook – Terror Revolucionário 15 Anos

Lá tem rolado várias postagens sobre esse show de 15 anos, muita história e fotos antigas.

Dia 08/02/2014 – Terror Revolucionário 15 anos

Local: Círculo Operário do Cruzeiro Velho/DF
Participação das bandas: Reincidents, Considered Dead, Kurgan, Suicídio Coletivo e Securitate (Machado/MG).


Valeu pela oportunidade,  Jayme!
Abraços libertários e revolucionários,
Barbosa Osvaldo/Terror Revolucionário




DISCOGRAFIA:
- Coletânea CD Atitude III (1999)
- Coletânea CD O Progresso da Regressão (2000)
- EP 7’ split Death Slam (2000)
- Coletânea CD Noise for Deaf III (2001)
- Coletânea CD Unidos pela Causa Underground (2002)
- CD debut Terror Revolucionário (2002)
- K7 live split Coche Bomba (França) (2004)
- Coletânea CD-R Destroy Music Now ! (2004)
- DVD-R Convocação Terrorista (2006)
- CD-R Tributo ao Karne Krua (2006)
- Coletânea Virtual / CD-R Tributo ao Rock Brasília (2006)
- CD Tributo ao ARD (2006/ 2007)
- Coletânea CD-R Show Coletivo Underground (2007)
- Coletânea CD-R Who Cares? Zine Vol. 1 (2007)
- CD Tributo ao Besthoven (2008)
- DVD Darge (Japão) – Ódio Brazil Tour 2010 (2011)
- CD Tributo ao Discharge (2011) - EP 7′ split Defy (2011)
- Coletânea CD-R 1º Festival Mundano (2011)
- CD Tributo a Pastel de Miolos (2013)

Conheça a banda: